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Vila Velha
Congo

SONS DA NATUREZA E CANTO DA ALMA

A casaca: Instrumento peculiar das Bandas de Congo, recebe outras denominações conforme o lugar: cassaca, canzaca, canzá, ganzá, carcaxá, reque-reque e reco-reco. Ao tocador dá-se o nome guerreiro de tocador de reco-reco ou reco-requista, canzaqueiro, conguista, casaquista e folgador, segundo inquérito realizado em 1953 pela Comissão Espírito-santense de Folclore. Também aparece em outras manifestações folclóricas brasileiras como o jongo e o caxambu, também presentes no Espírito Santo.

É uma das variações do reco-reco. A cabeça esculpida é que lhe dá o diferencial, fazendo dele um instrumento antropomórfico (de forma humana). Os congueiros esculpem uma cabeça humana no topo do instrumento, deixando o pescoço como local para segurá-la, enquanto o corpo , o casaco, é revestido com o reco-reco de madeira dentada, (esses instrumentos de percussão, são conhecidos como diáfonos, por possuirem a sonoridade própria do material com o qual foram fabricados, através de atrito ou fricção) .

Segundo informações coletadas por Michel Dal Col Costa, da Casa de Congo Mestre Antonio Rosa, da Serra, alguns velhos congueiros afirmam que, quem era esculpido na casaca era alguém odiado pelo grupo, como capitães do mato e maus senhores. O fetiche, era uma forma de satirizar esses homens terríveis, agarrando-os pelo pescoço, costume introduzido aqui por escravos afro-brasileiros. O instrumento é fabricado tradicionalmente com uma madeira de alagadiços chamada tagibubuia. Na Serra, o artesão local de nome Tute, vem fabricando uma nova versão do instrumento, utilizando canos de PVC, ao invés da madeira nativa. Sem perder a qualidade estética e a sonoridade original, está sendo adotada por diversos congueiros.

O modo de tocar os tambores (guararás), sentado sobre eles cavalgando-os, e os instrumentos originais dos índios, a casaca e o chocalho, aos quais os negros ajuntaram a cuíca, são complementados por outros: apito, triângulo(ferrinho), caixas, sanfonas (estas por influência da imigração italiana como ocorreu em Colatina-ES), pandeiros e ganzás. Os instrumentos são pintados nas cores da banda. Os da Banda de São Benedito na cidade da Serra, tem as cores verde e rosa, e em Cariacica, no grupo do mesmo santo de louvor, eles são pintados de verde.



As canções: Guardadas de memória ou improvisadas, elas falam de temas variados: "o mar, o amor, a natureza, a devoção aos santos e, por vezes a morte; (...) concorre para fazê-las triste a maneira dolente de cantá-las prolongando demasiadamente as vogais finais do último verso do refrão, que mais parecem lamentos e gemidos em âââââ, em êêêêê, em ôôôôô." (20) Um trecho dessas canções que falam de amor, foi recolhido na Serra em 1954 por mestre Guilherme:

Eu tô chorando ô Maria
Vem me acalentá ô Maria
Por causa do amor ô Maria
Que me faz chorá
Ô Maria....

Nas últimas décadas do século XX, simultaneamente à paralisação de alguns tradicionais conjuntos de Congo do Espírito Santo, por falta de instrumentos, organização e incentivos, surgiu um movimento em prol de sua valorização. Se hoje o Congo está vivo, e novas bandas estão em ação, devemos isso ao empenho de Mestre Antonio Rosa, que foi mestre da Banda de Congo de São Benedito da Serra/ES. Foi ele responsável por manter - pela permanência das tradicionais bandas de congo serranas - os segredos sobre a fabricação artesanal dos instrumentos utilizados pelas bandas, e pela formação de artesãos para a sua construção. Além deste incentivo auspicioso, foi também guardião de muitas histórias do Congo.
 

   

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