"Trabalhe como se tudo dependesse de ti, e confie como se tudo dependesse de Deus". Você já leu essa frase em algum lugar? Pois é esse lema, de autoria de Santo Inácio de Loyola, que inspirou a inscrição da bandeira do Espírito Santo. E como trabalho e confiança são duas coisas muito ligadas ao Estado nas matérias veiculadas no Brasil, é válido lembrar que nesta sexta-feira (23), o solo Espírito Santense completa 473 anos.
Foi em 23 de maio de 1535 que aportaram no litoral capixaba os primeiros habitantes estrangeiros deste território, do qual só se tinha ouvido falar, na época, sobre o monte do Mestre Álvaro e as salgadas águas cristalinas. Começava na enseada da Prainha, em Vila Velha, a história da colonização da capitania do Espírito Santo, comemorada no dia 23 de maio.
A primeira expedição que chegou à baía capixaba trouxe a bordo o navegador Américo Vespúcio e membros da nobreza portuguesa que vinham para a América em busca de uma nova vida. Em 1º de junho de 1534, Dom João III expediu a carta de doação da sesmaria do Espírito Santo ao português Vasco Fernandes Coutinho. Foi ele nosso primeiro donatário (o que hoje equivale a uma espécie de governador) e com ele vieram cerca de 60 portugueses para habitar as novas terras.
"Eles não eram tão nobres. Eram fidalgos portugueses, mas nada de tão poderoso. Como, no Brasil estavam sendo distribuídas as sesmarias, a do Espírito Santo coube ao Vasco Fernandes Coutinho. Ele chega em 1535, a bordo da caravela Glória, e desembarca aos pés do Monte Moreno", conta o historiador Carlos Benevides Lima Junior.
De acordo com Benevides, o progresso da capitania tardou cerca de duas décadas, já que Vila Velha, onde se estabeleceram os primeiros europeus, não tinha abastecimento de água nem era um território protegido do ataque de índios ou invasões estrangeiras, "tanto que construíram o forte ali na barra”, afirma o historiador.
Economia
A primeira vila capixaba foi erguida, por ordem de Vasco Coutinho, aos pés do Morro do Moreno. Na área, foram construídas cabanas simples e plantaram-se sementes trazidas de Portugal. Em 1550, devido à criação de acordos comerciais com Portugal e Angola, foi aberto um armazém alfandegado em Vila Velha, e daí começam os primeiros traços da economia do Estado.
De acordo com o especialista em História e Educação, Higor Lopes, a economia capixaba surgiu com forte presença da agricultura, item que permaneceu como grande sustentáculo das divisas capixabas até o século XX.
“No princípio do período colonial, você tem gêneros como a cana-de-açúcar sendo como o que mais gera riqueza para Portugal e para o Brasil. Mas a produção não é tão eficiente como era, por exemplo, na capitania de Pernambuco. Houve, por isso, um deslocamento do eixo econômico para outros produtos, como o café, que até hoje põe o Estado em evidência diante do Brasil", garante Lopes.
Religião
Com a chegada de missionários jesuítas, em 1551, começaram as construções advindas da fé. Foram fundadas, cinco anos depois, as localidades de Serra, Nova Almeida e Santa Cruz. “Desde a época dos primeiros portugueses, tem a chegada da Igreja Católica para cristianizar os nativos. Na região Norte, onde hoje, por exemplo, é a Serra, você tem os jesuítas. Em direção ao sul, onde hoje é Guarapari, tem novos focos de jesuítas", diz Higor Lopes. Como um dos maiores símbolos da presença cristã nesse período, o professor aponta a Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, fundada em 1580.
A nova capital
Em meados do século XVI, a sede da capitania, que era a Vila do Espírito Santo, hoje Vila Velha, foi transferida para a Ilha de Guanaaní, como chamavam os índios - ali fundou-se a Vila Nova (que hoje conhecemos como Vitória). A mudança surgiu da necessidade de defender a sede do território dos constantes ataques de indígenas, franceses e holandeses. É o que garante Carlos Benevides: "A ilha é muito mais segura, apesar deles não terem percebido que era uma ilha. Chamavam a área de Rio do Espírito Santo, não baía".
Outro problema enfrentado pelos portugueses na Vila do Espírito Santo era o abastecimento de água potável. Conforme disse o historiador, a presença da Fonte Grande em Vitória foi um dos fatores decisivos para a mudança da sede do governo.
Depois da morte do donatário, em 1561, a colonização do solo Espírito Santense acompanhou a extensão do litoral por aproximadamente 300 anos. A ocupação do interior capixaba aconteceu do Sul para o Norte, deixando traços marcantes na economia até os dias atuais, como atesta Carlos Benevides.
"O rio Doce servia de quartel, você não podia explorar nada porque o Rio Doce ligava às Minas Gerais, ao ouro. O Norte do Estado era um caminho natural para saída e entrada de ouro das minas. Já o Sul, se desenvolveu com a chegade de imigrantes, principalmente italianos, que vão precisar de espaço", contou.
O que é ser capixaba?
Mas e a palavra capixaba? O adjetivo pátrio que designa os nascidos no Espírito Santo surgiu de uma expressão tupi para identificar as plantações de milho e mandioca. Em seu sentido original, capixaba significa "terra para plantio".
Conta a história que índios que aqui viviam chamavam de capixaba as plantações de milho e mandioca. Com isso, a população de Vitória passou a chamar, também assim, os índios que habitavam na região. Com o tempo, o nome passou a designar todos os moradores do Espírito Santo.
Mas e hoje? O que é ser capixaba? Para o universitário Fabrício Bravim, ser capixaba é sinônimo de usar as expressões "iá" e "ir para o rock" quando manifesta surpresa ou indica que vai sair para se divertir. "Ser capixaba é saber que a moqueca nasceu aqui" foi a resposta do estudante de Jornalismo Lucas Bolzan, 22 anos, quando questionado sobre o tema. Já Mônica Fundão, afirma que ser capixaba "é ainda buscar sua identidade, porque não temos uma imagem que consigamos identificar a fundo".
Fonte: GazetaOnline
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 24/05/2008 às: 0-2:42
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