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Neucimar e Hércules iniciam a guerra
 


Um veio do Sul; o outro veio do Norte. Um tem mais tempo de vida; o outro, de Vila Velha. Um está há mais tempo na vida pública e é político tradicional no município; o outro entrou na política há alguns anos, mas conseguiu uma ascensão rápida. Um pretende, com o apoio do governo estadual, "reintegrar a cidade ao eixo de desenvolvimento do Estado." O outro, bem... o outro também.

Com diferenças tão visíveis, o deputado estadual Hércules Silveira (PMDB) e o deputado federal Neucimar Fraga (PR) se defrontam no segundo turno em Vila Velha, que oficialmente teve início ontem. Nesta entrevista ? na verdade, a edição de conversas mantidas desde domingo com os candidatos ?, ambos deixam ainda mais à mostra essas diferenças, ao delinearem a política de alianças e as estratégias que seguirão neste novo estágio do processo. Neucimar esnoba a família Mauro, ao mesmo tempo em que se afina com a direção estadual do PDT e conta também com a transfusão de prestígio de Sérgio Vidigal ? o campeão de votos do Estado. Hércules, por sua vez, explicita a disposição de ter os Mauro (pai e filho) ladeando-o no palanque ? na entrevista, ele faz várias "cantadas" ?, mesmo que no cartaz ao fundo o governador esteja a observá-los.

Diferente também é a opinião sobre o ponto de partida. Enquanto Hércules ? que teve 1,61 ponto percentual de votos a menos ? faz soar a velha máxima de que no segundo turno começa outro jogo e o placar é zerado, Neucimar defende que parte seguramente do patamar de votos que já acumulou. Confira abaixo os melhores trechos.

Neucimar Fraga
> > Deputado federal (PR)

Deputado, a votação que o senhor obteve no primeiro turno correspondeu à sua expectativa?
Sim. Eu já esperava um crescimento na reta final. O clima nas ruas era muito favorável à nossa candidatura. E a nossa expectativa era chegar a 35% no primeiro turno das eleições. Nossa campanha teve um crescimento permanente e sustentável durante todo o processo. Começamos com 11% nas pesquisas e chegamos a 34% dos votos. Isso demonstra que nosso eleitorado recebeu bem as nossas propostas. Fez uma reflexão na hora de votar e nós esperamos agora, com esse resultado, que tenhamos um segundo turno que nos favoreça. A eleição não está vencida ainda. Vamos trabalhar agora, no sentido de agregar novas alianças em nossa campanha, e esperamos uma eleição muito disputada.

O senhor, assim como seu adversário, sofreu vários ataques diretos por parte de outros candidatos na reta final da campanha. Mesmo tendo chegado à frente, o senhor acredita que isso possa ter-lhe custado alguns votos considerados certos?
São duas lideranças prestigiadas que foram bombardeadas nos últimos dias. Mas, Graças a Deus, em nada fui atingido.

As alianças com os candidatos derrotados e as respectivas legendas serão decisivas nesta nova fase. O senhor crê que haverá alguma dificuldade em firmar acordos, em virtude das acusações divulgadas pelos adversários?
Temos que botar a cabeça para esfriar. Mas acredito que vá ficar muito difícil que alguns candidatos, da forma como tentaram me atingir, estejam no meu palanque, que não tem espaço para calúnia e difamação, e sim para quem quer unir forças para construir uma nova cidade. E aqueles que se sentirem com esse perfil serão bem-vindos a nosso palanque. Existem algumas figuras nesse processo eleitoral que foram muito desleais conosco, e acredito que eles mesmos terão dificuldade de explicar para os eleitores uma aliança no nosso palanque.

Quem especificamente, você não vai procurar sob hipótese nenhuma?
(O prefeito de Vila Velha) Max Filho (PDT), (o ex-governador) Max Mauro (PDT) e (o candidato apoiado por ambos) Dyonizio Ruy Junior. Com os demais estamos abertos ao diálogo.

Mesmo que os candidatos derrotados se recusem pessoalmente a manifestar apoio a uma das candidaturas vitoriosas, os partidos deles podem negociar essas alianças, por meio das direções estaduais. O que está em negociação nesse sentido?
Tivemos uma primeira reunião com a cúpula estadual do PDT, por meio de Sérgio Vidigal e do deputado federal Carlos Manato (na última segunda-feira). Amanhã (hoje) me encontro com Vidigal em Brasília, e devemos anunciar essa aliança amanhã. Além disso, estamos fazendo contato com a direção estadual do PRTB e vamos solicitar uma audiência com o presidente regional do PT, deputado estadual Carlos Casteglione. Tenho uma boa relação com as executivas estaduais desses partidos e nós vamos buscar um entendimento favorável. Mas vamos buscar alianças não só com os líderes partidários. Temos vários candidatos a vereador que estavam em outros palanques e poderão estar conosco.

Qual será a principal estratégia para cativar os eleitores que, no primeiro turno, não votaram em nenhum dos finalistas?
Tenho muitos eleitores que, inclusive, nas abordagens conosco, já manifestaram o desejo: "Olha, no segundo turno, vamos estar com você. Temos aqui um compromisso partidário, temos aqui uma gratidão. Fazemos parte da administração. Não queremos ser mandados embora, temos medo se sermos perseguidos". Tinham ainda a esperança de que o candidato da situação poderia ir para o segundo turno. E agora fica claro que não vai. Cada um vai procurar ocupar o seu espaço. Quem está na vida pública vai permanecer. Alguns migrarão automaticamente, independentemente do seu líder, para algumas das candidaturas que estão postas.

Podemos esperar alguma novidade quanto à linha seguida na propaganda eleitoral?
Não. Nossa campanha vai continuar no mesmo ritmo. Provamos que estávamos certos quando optamos por falar em propostas, e não ficar perdendo tempo com críticas, difamação. Só usamos o direito de resposta para nos defender e, mesmo na defesa, não usamos nem a nossa língua, mas a deles mesmos. Então, vamos continuar de forma propositiva, porque tem sido a fórmula que o povo de Vila Velha tem demonstrado que aceita. O povo está cansado de nos ver brigando.

O senhor é seguidor daquela máxima de que, no segundo turno, a contagem zera, e se inicia uma nova campanha?
Não. Ninguém começa com 3% no segundo turno. A gente começa na faixa dos 35% que eu tive. E quero agora agregar novos votos e chegar ao número necessário para ganhar a eleição.

Neste ponto, qual é sua maior vantagem sobre seu adversário?
Estou preparado para ser prefeito da cidade. Tenho uma boa relação com o governo do Estado e com o governo federal. Vila Velha tem desafios que precisam ser encarados com apoio dessas esferas. Tenho boa relação na bancada federal, que pode ser uma boa parceira, na busca de investimentos para o município. Já tenho uma aliança política com 12 partidos. Vamos eleger aqui mais de 70% dos vereadores. Tivemos a maior votação no primeiro turno. Tudo isso vai facilitar a atração de novos apoios no segundo turno.

Qual o clima que o senhor espera para o segundo turno?
A Bíblia diz: "Enquanto depender de vós, segui a paz com todos". Esse vai ser o meu lema.


Hércules Silveira
> > Deputado estadual (PMDB)

Deputado, a votação que o senhor obteve correspondeu à sua expectativa?
Sim. O povo de Vila Velha respondeu a nossas propostas com um acolhimento muito bom. Nós tivemos uma diferença de um 1,4 ponto para o candidato adversário. Ele fez uma campanha muito rica, que já vinha fazendo há muito tempo. Já tinha a meta de ser candidato a prefeito, e eu não. Além do mais, eu tinha 53 candidatos a vereador na minha coligação, e ele, 150. São três vezes mais cabos eleitorais. Então, acho que tivemos uma vitória muito importante.

Mesmo tendo chegado à frente, o senhor acredita que os ataques desferidos pelos adversários possam ter-lhe custado alguns votos?
Não acredito, porque o povo de Vila Velha já me conhece. Tenho mais de 30 anos trabalhando na área de saúde, e mais de 20 como político. Então as calúnias que me foram dirigidas não foram levadas em consideração, mesmo porque minha votação ficou no patamar que eu mantinha nas pesquisas. E aqueles que me caluniaram naturalmente ficaram numa saia justa muito grande, porque o povo não acreditou.

O senhor crê que terá dificuldade em firmar acordos, em virtude das acusações divulgadas pelos adversários?
Parece que meu adversário fechou a porta para o PDT. Eu não fechei a porta para ninguém. Voto não tem qualidade, e sim quantidade. Primeiro, Max (o prefeito Max Filho) jamais vai concordar que o pessoal (do PDT) o apóie. E comigo nem tanto. Posso não ser o ideal para ele, mas ele pode ganhar comigo. Ele me conhece há muitos anos, sabe do meu passado e do meu presente. Não vou contrariar os projetos dele. Por outro lado, meu adversário jogou tentando ser o anti-Max em Vila Velha.

A gente pode concluir corretamente pela sua fala que a prioridade é mesmo buscar o grupo dos Mauro em Vila Velha?
Os políticos e os partidos de Vila Velha que querem o bem da cidade não vão se importar com os projetos pessoais. Acima de nós está a cidade. Então nós temos que nos unir agora num projeto importante: concluir as obras que o prefeito começou. Não vamos ficar olhando pelo retrovisor. Então, se os políticos de bem tiverem juízo, vão se unir em torno do meu nome. Eles acusaram o meu adversário de outras coisas que eu me reservo o direito de não citar. Os aliados dele não me interessam. Enquanto eu vou mostrar meus aliados. Não fui acusado de corrupção, de participar de crime organizado...

Não vai ficar nenhum constrangimento?
Absolutamente. Não me ofenderam falando de populismo, porque não vesti essa carapuça. Falaram que uso excessivamente a imagem do governador. É verdade, eu uso, e vou continuar, mas eles usaram também.

O que está em negociação?
Temos um conselho político ? formado, entre outros, pelos deputados estaduais Sérgio Borges (PMDB) e Elcio Alvares (DEM) ?, que está analisando a melhor forma de conversar com cada um. São pessoas importantes no município, que já deram sua contribuição e ainda estão dando. Só que já passaram pelo poder e agora têm que estar unidas num projeto novo para Vila Velha, de união do município com o Estado. Estamos em reunião permanente desde domingo. Entre os blocos que não foram ao segundo turno, já conversei com um presidente municipal e diretamente com um candidato. Além disso, o deputado federal Lelo Coimbra (presidente regional do PMDB) solicitou uma audiência com o deputado estadual Casteglione (presidente regional do PT), já que alguns obedecem à linha estadual. Mais importante do que o candidato é o partido. Se o partido determinar, o militante vai obedecer.

Podemos esperar novidades na propaganda eleitoral?
O grande clamor de Vila Velha é melhoria na saúde. Vamos trabalhar com muito foco na saúde, na educação e na segurança.

O senhor é adepto da máxima de que, no segundo turno, a contagem zera?
É verdade. Segundo turno é para se reestruturar. Comparo sempre com uma partida de futebol. Tem o primeiro tempo, que é um jogo. O segundo tempo é outro. Temos certeza que grande parte do eleitorado que votou em Vasco, Luceni, Vereza e Dyonizio não vota em Neucimar. Se fizermos uma pesquisa até o fim de semana, tenho certeza de que vou aparecer bem na frente.

O senhor tem elementos concretos para pensar assim?
Perfeitamente. As principais acusações que foram feitas sobre mim pelo "G4" não tinham substância. Já o outro não. Fizeram acusações graves. Sabemos que muitos desses votos migrarão para nossa candidatura.

Qual é sua maior vantagem sobre seu adversário?
A minha história política. Tenho mais de 20 anos de política em Vila Velha. Já Neucimar foi eleito em Soteco como vereador, depois eleito deputado federal. Mudou de Soteco para Itapoã. Nós nunca abandonamos o lugar onde trabalhamos. Meu carro é o mesmo; meus hábitos também. Continuo com a mesma vida simples. Neucimar hoje passa que foi vendedor de picolé, mas eu fui engraxate. E ele ainda tem sorte de ter pai. O meu morreu quando eu tinha onze anos. Só que não botei na televisão igual àquele filme, "Dois Filhos de Francisco", com uma insinuação emocional. Não vendo algodão por veludo e não prometo que vou transformar Vila Velha num paraíso, porque isso é mentira.

Qual o clima que o senhor espera para o segundo turno?
Quero mostrar que sou capaz de administrar com eficiência, de uma forma técnica. Não quero mostrar os defeitos do meu adversário, dizendo que sou melhor do que ele. Estou num bom momento, com essa aliança com o governador, que vai viabilizar técnicos para eu formar uma boa equipe em Vila Velha.

Fonte: Jornal AGazeta

Enviado Por: Eliaro
Publicado em 08/10/2008 às: 07:01
 

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