Caminhar sobre a areia da praia em Vila Velha pode ser uma atividade de risco para a saúde. Absurdo? Nem tanto, se for levado em consideração o índice de contaminação encontrado durante estudo feito pesquisadores da UVV: 71% das amostras de areia colhidas continham larvas de parasitas que causam diarréia e outras doenças.
A coleta foi feita num trecho de sete quilômetros entre as praias da Costa e de Itaparica, entre os meses de julho e setembro deste ano. Em cada um dos 14 pontos foram colhidas 12 amostras de areia, e na maior parte delas foi encontrado Ancylostoma, parasita conhecido como "bicho geográfico", cujas larvas podem ficar migrando na pele da pessoa infectada e causar coceira, insônia e até diarréia se forem ingeridas.
Mais perigoso que o Anylostoma, o parasita Strongyloides stercoralis também foi encontrado na areia. Entrando na pele do homem, ele pode causar crises de diarréia alternadas com constipação intestinal e outros problemas, como explica a médica Daniela Isoton, professora de parasitologia e membro do Complexo de Bio-práticas da instituição de onde partiu a pesquisa. "Esse parasita é uma praga para o homem, principalmente para pessoas que apresentem baixa imunidade. O estudo mostra que o homem contamina seu próprio ambiente", frisa.
Os excrementos de animais e mesmo de humanos não são os únicos problemas relacionados à limpeza das praias enfrentados pelos moradores dessas regiões. Restos de comida, palitos de churrasco, sacolas plásticas são apenas alguns exemplos dos objetos que atrapalham a vida de quem tenta fazer sua caminhada ou corrida à beira-mar.
Para o funcionário público Antonio Carlos das Neves, 47, que corre sempre na Praia da Costa, falta consciência aos banhistas. "É um absurdo a situação das areias. Sem falar nos palitos de churrasco. Já até me furei com um. Falta consciência de quem freqüenta o local, principalmente no fim de semana. A prefeitura deveria distribuir melhor as lixeiras e fazer um trabalho de conscientização."
Vermes também em parques de Vitória
Em novembro do ano passado, outra pesquisa também realizada pela UVV apontou alto índice de contaminação nas areias dos parquinhos de praças de Vitória. A contaminação por fezes de cães e gatos foi constatada em 63% dos locais visitados. O mesmo tipo de contaminação também foi percebido no período em praias e parquinhos de Vila Velha, mas em percentual menor. A prefeitura, na época, alegou que, nas pracinhas, a limpeza da areia era feita de seis em seis meses e que, nas praias, a administração admitiu que a limpeza era feita quando a sujeira se tornava "visível" ou quando alguma associação de moradores solicitava. Os mesmos parasitas foram encontrados na pesquisa do ano passado, feita com menor número de amostras.
"Fazemos limpeza todo dia"
Sérgio Toniato. Gerente de Resíduos Sólidos da Secretaria de Serviços Urbanos de Vila Velha
"Fazemos a limpeza da praia todos os dias. Durante a manhã e também à noite, fazemos a coleta do lixo. Realizamos ainda um trabalho de conscientização que é feito especialmente no verão. Nessa estação do ano, entregamos sacolas de lixo. Pensamos em estender esse trabalho para outras épocas do ano, mas a freqüência nas praias também diminui. O que podemos fazer é um estudo para ver se há necessidade de aumentar o número de lixeiras. A conscientização é um processo difícil, lento. Como você vai pedir para que a pessoa pare de jogar lixo na praia se ela faz aquilo há 20 anos? Não é simplesmente durante uma campanha que o comportamento dela vai mudar. Mas continuamos insistindo."
Para moradores, sobram sujeira e vandalismo
A falta de limpeza e de manutenção é um dos principais problemas enfrentados pelos freqüentadores da Praia da Costa, na opinião da professora Danielle Vilela, 37 anos, mãe dos gêmeos Maria Vitória e Joaquim. "Precisa limpar mais, pois há muito cachorro por aqui. À noite, o pessoal urina, é vandalismo mesmo que acontece. Além disso, o parque é feito para crianças, e adultos e adolescentes ficam ali direto, estragam os brinquedos", lamentou. Ao lado dela, a babá Naiane dos Santos, 18 anos, que toma conta do pequeno Bruno, contou que ele já teve micose nos pés e que a mãe desconfiou de que areia do parquinho fosse a fonte de contaminação.
Fonte: Jornal AGazeta
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 11/10/2008 às: 21:48