Por: Tarcísio Bahia
Antes de mais nada, início este texto deixando claro que meu discurso transcende qualquer motivação política. Isto posto, desejo todo o sucesso ao prefeito eleito de Vila Velha, Neucimar Fraga. Sua eleição é um voto de confiança da sociedade canela-verde ao seu projeto de governo. Estranha-me, contudo, que uma vez eleito suas primeiras colocações aparentem total desconhecimento sobre um processo bastante discutido nos últimos anos: a urbanização das orlas de Itapoã e Itaparica.
Vamos aos fatos. Em 2001 a PMVV contratou o Instituto de Arquitetos do Brasil/Departamento do Espírito Santo para organizar um concurso público nacional de projetos para a urbanização das orlas de Itapoã e Itaparica. Os concorrentes tiveram como base para elaborar suas propostas o edital do concurso elaborado pelo Dr. Arq. Marco Romanelli, professor da Ufes e atualmente presidente do IAB/ES. No júri, composto inclusive por representante da comunicade local, destacava-se o renomado arquiteto Carlos Fayet.
O resultado foi favorável a uma equipe capixaba, que iniciou o projeto executivo em 2002, concluindo-o em meados de 2004, num prazo além do inicialmente previsto em função de um intenso processo de discussão com vários interlocutores, a saber: técnicos da PMVV, associações de moradores da região e dos quiosqueiros, colônias de pescas de Itapoã e Itaparica, Iema, Capitania dos Portos, GRPU e Ministério Público.
Foram várias as reuniões e audiências visando a estabelecer um projeto que respeitasse os diversos interesses, na maioria das vezes divergentes entre si. Foi um processo com bastante visibilidade, divulgado na imprensa local em diversas ocasiões. Imprevistos circunstanciais impediram que a PMVV executasse o projeto naquele momento.
Posteriormente, em 2006, a PMVV solicitou aos mesmos arquitetos alguns ajustes no projeto, visando a reduzir custos e adequando-o à expansão da restinga. Quando o projeto estava quase finalizado, ele foi apresentado em audiências públicas. E novamente foram solicitadas alterações, prontamente atendidas tanto pelo atual prefeito quanto pelos arquitetos.
Ora, o que se espera de quem pretende governar um município é um conhecimento razoável sobre a história recente do lugar. O que está sendo construído, gostem alguns ou não, é resultado de um processo democrático em prol da qualificação de um lugar, através de um projeto arquitetônico elaborado por uma equipe técnica qualificada que dedicou bastante tempo e carinho a este trabalho.
Neste ponto, encerro recuperando alguns dos critérios propostos por ocasião do concurso e que nortearam todo o projeto: dotar o espaço existente residual – hoje um asfalto inóspito – de qualidades visuais e ambientais capazes de transformá-lo num local aprazível, bonito, simbólico e cômodo; pensar o calçadão e a ciclovia como local de percurso sincopado, onde se possa desfrutar do tempo enquanto qualidade do espaço; fazer do lugar um parque linear ao longo da orla, criando uma agradável transição entre os elementos da paisagem urbana litorânea. Resta saber se o que está sendo executado corresponde ao projetado.
Tarcísio Bahia é doutor emarquitetura e professor da Ufes. e-mail: tarso@ebrnet.com.br
Fonte: Jornal AGazeta
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 01/11/2008 às: 09:27