Às vésperas de mais um verão, as primeiras chuvas fortes que atingiram a cidade de Vila Velha - o maior volume dos últimos 84 anos, na Grande Vitória, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, para o mês de novembro ? deixaram a população novamente à mercê dos alagamentos. Apesar de ter mais de 50% das obras concluídas, segundo a prefeitura, o projeto de macrodrenagem que prometia dar fim ao problema ainda não apresentou o resultado, há anos esperado pelos moradores.

Ontem, em Cobilândia, um dos bairros que mais sofre com as chuvas, as pessoas não tinham como sair de casa, a não ser com água na altura dos joelhos, e perderam o acesso ao transporte, já que ônibus não circulavam no local, que é um dos que seriam beneficiados pelo projeto.

Uma das principais vias de acesso ao município, a Avenida Carlos Lindenberg, teve que ser interditada por causa de uma cratera que se abriu na pista, cheia de pontos de alagamento. Após decretar situação de emergência, a prefeitura alega que o volume de chuva foi responsável pelos problemas no município.

Histórico 
Quando foi contratado, o projeto de macrodrenagem de Vila Velha foi anunciado pelo prefeito como o fim dos problemas de alagamentos da cidade, e tinha previsão de ser concluído em julho do ano passado. As obras começaram em janeiro de 2006.

O último atraso foi anunciado no início deste mês, quando a prefeitura informou que duas das cinco frentes de trabalho estavam paralisadas por causa do rompimento de contrato com a empresa responsável, acusada de lentidão na execução dos serviços. O projeto só seria entregue à população, então, no segundo semestre de 2009.

Além do problema com a empresa, a prefeitura alega que a obra não foi concluída pelas dificuldades no repasse da verba contratada com a Caixa Econômica Federal e ainda pela complexidade do projeto. "Dos 27 milhões contratados pela Caixa, recebemos R$ 5 milhões. Dos R$ 13 milhões que seriam contrapartida do município, demos R$ 17 milhões, mais que o contratado. , afirmou o prefeito.

A Caixa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que dinheiro existe, mas o desembolso depende de documentação complementar, a ser apresentada pela prefeitura.

Para o prefeito Max Filho, a cidade conta hoje com uma infra-estrutura melhor, após as obras. "As obras de macrodrenagem solucionaram os problemas em São Torquato, em Vila Batista. Há obras de construção de galerias em seis das 12 bacias da cidade. Até Vitória, que já tem seu sistema de macrodrenagem pronto enfrenta dificuldades nestas chuvas", justificou.

Prefeitura pedirá ajuda ao governo
Ontem, após decretar situação de emergência no município, o prefeito Max Filho afirmou que vai pedir ao governo do Estado verba para recuperação da Rodovia Carlos Lindenberg e também o uso de casas do projeto de habitação do município em parceria com a Companhia Estadual de Habitação (Cohab) para abrigar famílias atingidas pelas chuvas.

"Estou pedindo temporariamente 30 casas", afirmou o prefeito, que fará uso parcial também de cinco escolas do município para abrigar moradores que perderam suas casas.

A prefeitura também pede a intervenção do governo na Rodovia do Sol, para dar vazão às águas do Rio do Congo, que transbordou, causando alagamentos na região de Ulisses Guimarães e 23 de Maio. "Nesse ponto só o Estado pode fazer. O município não tem dinheiro e a rodovia é estadual", afirmou o prefeito, em referência à tubulação que passa por baixo da rodovia, mas que só permite a passagem da água se a região já estiver totalmente alagada. "É a crônica do alagamento anunciado".

Hoje, a prefeitura deve concluir o Aviso de Danos, relatório que justifica o pedido de recursos em casos de situação de emergência decretada.

A novela do projeto
O começo. Com previsão de construção de mais de 8 mil metros de galerias em seis bacias ao Norte do Rio Jucu, o projeto de macrodrenagem de Vila Velha teve início em janeiro de 2006

Atrasos. Na época, a previsão era de que a obra fosse entregue em julho do ano seguinte. Após revisões no projeto e problemas com empreiteiras, o prazo foi revisto para o segundo semestre de 2009

Custo. O projeto todo tem um custo estimado de R$ 48 milhões. Desse total, 27,6 milhões foram contratados com a Caixa Econômica Federal e R$ 13 milhões seria a contrapartida da prefeitura

Percalços. Em 2006, houve desentendimento entre a prefeitura e a Caixa, o que levou à suspensão dos recursos por alguns meses

Pronto. Segundo a prefeitura, cerca de 55% da obra foram concluídos. Entre os locais que já sentiriam os efeitos da macrodrenagem estariam os bairros de São Torquato, Vila Batista, Jardim São Paulo e parte de Paul. Em Vila Batista, Paul, Aribiri e Ibes as obras devem terminar em janeiro. Em Guaranhuns, em julhode 2009, segundo previsões feitas no início deste mês

Suspensão. No início deste mês foi rescindido o contrato com a Uni Engenharia e foram suspensas as obras no Canal da Costa e Cobilândia/Alvorada/Santa Rita. Para a retomada, a prefeitura decretou situação de emergência na região prejudicada

Retomada. As obras foram retomadas no dia seguinte à decretação da medida

Na chuva. A prefeitura informa que fez a interligação do Canal de Cobilândia com o Rio Marinho, para facilitar o escoamento da água de chuva para o mar, e mantém uma máquina no local para permitir um maior escoamento no trecho

Obra na orla também pode atrasar
Depois de afirmar várias vezes que entregaria as obras de reurbanização da orla de Itaparica no dia 23 do mês que vem, o prefeito Max Filho disse ontem que o cronograma pode mudar em função do mau tempo. E apontou outro fator que teria contribuído: um embargo imposto às obras pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente.

"Com esse tempo, não temos como colocar concreto. Vamos esperar que o clima melhore um pouco. Hoje vemos quanta falta fizeram os 20 dias de embargo...," afirmou, em referência ao período em que as obras foram embargadas, a pedido do Iema, que impediu a construção do calçadão em curvas, sobre a areia.

O vice-governador Ricardo Ferraço fez questão de dizer que o governo está disposto a oferecer ajuda, mas considerou injustiça do prefeito Max Filho "a transferência de responsabilidade para o Estado pela falta de gestão das obras do município".

"A todo momento o prefeito quer fazer luta política. Quem gasta seu tempo assim não encontra tempo para trabalhar e mostrar resultado", disse Ferraço.

Para ele, que é também morador de Vila Velha, a chuva deixou claro que as obras de macrodrenagem não passaram no teste. O vice-governador lembrou que o governo já repassou R$ 5 milhões dos R$ 10 milhões garantidos para as obras da Lindenberg, executadas pela prefeitura, que investe no local R$ 2 milhões.

Antes mesmo da chuva, disse Ferraço, a avenida estava em péssimo estado. Ele lembrou também os problemas na Avenida Champagnat, urbanizada pela prefeitura. "Se a prefeitura não teve capacidade para tocar as obras, o governo não pode ser responsabilizado", argumentou.

Fonte: Jornal Agazeta