Um lugar em Vila Velha representa bem o drama e o desespero de várias famílias atingidas pelas chuvas dos últimos dias. Ninguém entra e ninguém sai do bairro Pontal das Garças, que está completamente alagado e os moradores estão pouco a pouco ficando sem mantimentos, sem água e sem comunicação. A maioria das pessoas que ali residem tiveram grandes perdas materiais e ainda tentam a todo custo salvar o que restou. Sobreviver em meio a água da chuva misturada a do valão que transbordou é a realidade de muitas famílias hoje.
A única entrada do bairro está totalmente alagada. Nesta quinta-feira (27), a equipe de reportagem só conseguiu entrar na região com a ajuda do caminhão de um morador e constatou de perto o drama vivido pelas famílias. Os moradores que avistavam o veículo pediam socorro. Pais carregavam os filhos como se o caminhão fosse a única esperança de saída de um lugar esquecido. Os que ali residem contaram que estão lutando contra a força da natureza a cerca de uma semana, sem sucesso. O valão transbordou e a água não tem para onde escoar já que a chuva não dá trégua na Grande Vitória.
Fora dos limites de Pontal das Garças, um morador alertou sobre as dificuldades enfrentadas pelos vizinhos. Ele só conseguiu sair do bairro caminhando com cautela para não cair em nenhum buraco. A tosadora Daniele Campos, de 17 anos, conseguiu pegar carona na boléia do caminhão para tentar chegar ao trabalho. "Tudo está alagado. A água está vindo na cintura. Ontem mesmo encontrei duas cobras. A minha casa está toda alagada e nós precisamos levantar tudo para não perder. A situação está complicada."
Já dentro do bairro o que se via era desolador. A dona de casa Ivanete Aparecida, de 37 anos, tentava salvar o que restou da casa que estava alagada. "Não temos mais nada. As compras molharam, já não tem roupas limpas para colocar nas crianças. Perdemos tudo. Quem está aqui dentro não sai e quem está lá fora não entra. A gente está de pés e mãos atados", desabafou Ivanete.
O mesmo aconteceu com a dona de casa, Dayse da Silva Barbosa, de 31 anos. Ela dormia quando a água começou a invadir a casa. "A gente dormiu e a água começou a minar no meu quarto, aí eu peguei e fui para o quarto das crianças só que a chuva veio e agora minha casa está cheia de água. Quase que a gente acorda boiando dentro de casa. Molhou tudo, eu estou desesperada, eu nunca passei por isso", contou a moradora.
Escolher entre ajudar a família e o trabalho. Esse foi o dilema do motorista Edmilson Gomes da Silva, de 36 anos, que auxiliou até onde conseguiu, mas precisava pegar a estrada. "Se você fica dentro de casa, as contas não param de vencer. Não tem condições. É prestação, é conta de água, conta de luz e de telefone - que já está cortado e então não tem como pedir ajuda. Se eu saio, eu penso na família em casa, nos vizinhos. Fica difícil".
Para tentar salvar a filha de quatro meses da enchente, o comunicador visual Idair Belo, de 43 anos, tentava sair do bairro andando com a esposa. Por sorte, conseguiu a carona no caminhão. "Eu estou levando o neném porque não tem condições dele ficar aqui. Eu volto para minha casa, porque ela é alta. Mas se precisar de um socorro para o neném aí fica difícil. Então vou levá-lo para a casa da minha sogra e esperar as condições melhorarem", disse.
Assim como esses moradores, alguns outros conseguiram deixar o bairro com a ajuda do caminhão do vizinho. Mas mesmo assim, a maioria ficou para trás, ilhada, com medo e sem esperanças de que a água fosse diminuir. O secretário de Obras de Vila Velha, Osvaldo Isiário, informou que no local há uma draga para retirar a água do bairro e outra deve ser instalada nesta sexta-feira (28), mas a situação só deve melhorar quando as águas do Rio Jucu abaixarem.
Fonte: GazetaOnline
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 27/11/2008 às: 20:59