Em entrevista à Rádio CBN, o prefeito de Vila Velha disse que tem consciência tranqüila de que fez a sua parte. Prefeito de uma das cidades mais atingidas pelas fortes chuvas que têm caído no Espírito Santo, Max Filho vai logo avisando: "Não sou Deus para solucionar o problema das enchentes em Vila Velha até o final do meu mandato".
Ontem, em entrevista à Rádio CBN, com trechos aqui publicados, ele não soube precisar qual o montante dos prejuízos causados, o que deve constar do relatório que promete enviar hoje à Defesa Civil estadual, mas pediu ajuda da população para os desabrigados e desalojados. "O momento é de solidariedade", disse o prefeito.
Desabrigados
Somente na Escola Zaluar Dias, em Guaranhuns, há 120 pessoas abrigadas. São moradores da baixada do Canal Guaranhuns, que inclui os bairros Jardim Guaranhuns, Vila Guaranhuns, Pontal das Garças e Darly Santos. As águas escoam pelo canal e desaguam no Rio Jucu, que estando cheio mantém a comporta fechada, e as águas não têm como escoar. Segundo a Cesan, o Jucu está num nível bem elevado, de 2,5m. Mas enquanto não parar a chuva nas cabeceiras, o Jucu não baixa seu nível. A prefeitura está colocando dragas para levar a água do canal Guaranhuns. Mas quanto mais chove, mais o nível aumenta.
Ajuda
Fica aqui um pedido de ajuda a quem puder ajudar. A prefeitura tem buscado custear as cestas básicas, a alimentação, mas as pessoas precisam ajudar. Esse é um momento de se colocar a solidariedade em curso. Quem quiser ajudar pode se dirigir à Secretaria de Ação Social, na Avenida Champagnat, na esquina com a Rua Ignácio Higino. Também estão precisando de ajuda moradores da Grande Cobilândia. Lá, as águas escoam para o Canal de Santa Rita, que desde 2004 teve aumentada sua capacidade de vazão. Já o Canal do Rio Marinho, que passa numa área próxima à Grande Cobilândia, tem uma espécie de dique que impede a comunicação com os canais da região. Ali passa uma tubulação da Cesan. Há um ponto onde a prefeitura está construindo uma comporta, que deve ficar pronta nos próximos 15 dias, tão logo as águas baixem. Vila Velha tem dois diques. Um é a Avenida João Mendes, em Santa Mônica, que foi o primeiro dique do Rio Jucu. Na década de 60 ele rompeu, e houve uma grande inundação. O outro é na Estrada de Caçaroca, margeando o Rio Jucu. Estudos recentes mostram que teremos que fazer um reforço nesse dique para aumentar a segurança da população. Estamos em atenção, o Jucu parou de subir, e nós pedimos a Deus para que pare de chover.
Rodovia do Sol
O valão que passa no bairro 23 de Maio é, na realidade, o Rio do Congo, que quando chega à Rodovia do Sol fica represado. Por isso, não há como não ter alagamento em 23 de Maio e Ulisses Guimarães. A rodovia foi construída sem um relatório de impacto ambiental, e as três galerias retangulares que passam sob ela, que transportam o rio da baixada da Grande Terra Vermelha para a Barra do Jucu, foram construídas acima do nível. Para serem utilizadas, a Grande Terra Vermelha tem que ficar debaixo dágua. Nós informamos ao governo do Estado, a quem pedimos ajuda.
FGTS
Em 2004 levei ao presidente da República um pedido, e ele editou uma medida provisória autorizando saques do Fundo de Garantia por atingidos pelas chuvas. Vila Velha foi responsável por um terço de todos os saques devido àquele desastre natural. Nós ainda não temos a confirmação da presidência da República se essa possibilidade de saque do FGTS poderá acontecer agora. E por que Vila Velha repete a situação daquela época? Por causa da topografia. Temos alguns bairros ao nível do mar.
Macrodrenagem
Em alguns bairros, como Vila Batista, São Torquato, parte de Itaparica, onde foi implantada a obra de macrodrenagem, há uma efetividade no trabalho. Mas as obras estão contratadas para seis das 12 bacias de Vila Velha. São Torquato sempre foi assunto da mídia, mas hoje as pessoas andam ali com pés enxutos. O projeto se propõe a tornar mais célere a chegada das águas de chuva ao mar.
Caixa
Contratamos o empréstimo de R$ 27 milhões em 2004, com a Caixa, e recebemos R$ 5 milhões. Do BNDES contratamos R$ 23 milhões para Terra Vermelha, em 2008, e já recebemos R$ 6 milhões. Dizem que é pelo fato de a caixa ser vinculada ao Ministério da Fazenda, cuja missão é fazer superávit fiscal. Já o BNDES é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, cuja missão é desenvolver o país.
Dragas
É preciso contar com as preces das comunidades para o Rio Jucu baixar seu nível, para dar vazão às águas. Por mais que as dragas lancem 450 mil litros por hora - há uma operando e outra em instalação ? é muito pouco.
Carlos Lindenberg
O tráfego é muito pesado na avenida, que já tinha um pavimento sucateado ? 90% do comércio exterior do Estado passam por ali. Nossa tarefa é recuperar aquela via, tapando os buracos. Mas isso só é possível quando estiver seco.
Solução
Eu não sou Deus para resolver o problema das inundações até o final do meu mandato. Há uma expressão bíblica que diz que o Senhor tem o seu caminho, na tormenta e na tempestade. Cabe a nós fazermos a nossa parte. Tenho consciência tranqüila de que como prefeito de Vila Velha procurei fazer a minha parte.
Prejuízos
Estamos fazendo o inventário para relatarmos os prejuízos, no relatório que vamos apresentar ao governo nesta sexta-feira.
Saúde
A Secretaria de Saúde já começa a distribuir cloro para a lavagem das paredes e pisos de casas que foram invadidas pelas águas. E a dengue nos preocupa, porque o cenário é propício para o mosquito: água e calor. Vai ser preciso um mutirão, envolvendo todo mundo, para evitar os focos de mosquito. Em 1987 Vila Velha já elegeu o mosquito e temos que estar vigilantes para não perder essa guerra. Mas é importante dizer que 90% dos focos estão dentro de casa, em água limpa.
Participação
300 pessoas
Essa foi a quantidade aproximada de pessoas que enviaram perguntas para o prefeito durante a entrevista.
O jeito é esperar a água baixar
Não há nada que possa ser feito sobre os alagamentos enquanto a chuva não parar, afirmou ontem a Prefeitura de Vila Velha. A convite da reportagem de A GAZETA, o superintendente de Serviços Urbanos de Vila Velha, Fernando Grijó, foi até a região de Jardim Guaranhuns, uma das mais alagadas do município.
Dois repórteres e um repórter fotográfico circularam de barco pela região e viram bem de perto os problemas vividos por quem mora na área. O comerciante Cléber Geraldo Altoé, 47 anos, é uma dessas pessoas. Ele trabalha com material de construção e é morador do bairro Jardim Guaranhuns. "Há quase uma semana, a água não abaixa. Perdi areia, cal, cimento, madeirite, sem contar que não há como vender", diz.
Algumas entregas são feitas em um barco de madeira, também usado para levar moradores. Materiais mais pesados vão em um caminhão, que enfrenta a água enquanto pode.
Por falta de opção, alguns moradores passam no meio da água, que em alguns pontos quase chega à cintura. Dois funcionários da loja de Cléber estão com febre, o que pode ser um sinal de doença causada pelo contato com a água suja.
"Não há como não entrar em contato com a água, porque está tudo alagado. Há casos de pessoas doentes, e os ratos já estão tomando conta do bairro. Estamos ilhados, não podemos nem ir a um posto de saúde", afirma o morador Alair Silva.
Segundo o superintendente de Serviços Urbanos, o problema é que Vila Velha está no mesmo nível do mar, e alguns bairros, como Jardim Guaranhuns, são abaixo do nível do mar.
"O que podemos fazer é dragar a água e jogar no Rio Jucu", afirma Grijó. Ele acrescenta que, como o nível do rio está alto, a draga é insuficiente. Outra draga deve chegar hoje. "Mas enquanto a chuva não parar e a água não abaixar, não há o que fazer", diz.
Deu no On Line
Trechos de comentários postados no portal da Rede Gazeta
Juliana N. "Moro em Nova Itaparica e estou totalmente alagada... A sorte que ainda temos bons vizinhos que estão nos dando alguns donativos.. Vizinhos estes que também estão ilhados... O pior é que o pessoal do trabalho parece não acreditar...."
Leonardo B. "Os políticos não fizeram NADA para evitar isso. Em 2008, pensaram somente no próprio umbigo."
Alípio FDS: "Parabéns à Rede Gazeta pela matéria que nos coloca cientes da situação de muitos moradores da Grande Vitória, e medalha de lata para os governantes que só se aproximam do povo em véspera de eleição."
Alessandra D: "Acho que a população deveria verificar antes de construir, deveria respeitar o meio ambiente, e respeitar aos outros cidadãos. Devido a lixo jogados nas ruas e nos valões, as enchentes pioram (...) Existe liberação da prefeitura para as construções? Ficam algumas dúvidas."
Ajuda
Postos para receber doações
Um posto de coleta para doação será montado amanhã, no Bar Nosso Cantinho, na Barra do Jucu, em Vila Velha, para beneficiar vítimas das chuvas (veja ao lado outros postos). Podem ser doados roupas, calçados, fraldas, alimentos, móveis e eletrodomésticos. O Círculo Trentino também se organiza para enviar doações a vítimas em Santa Catarina.
Onde entregar doação
Secretaria Municipal de Ação Social (Semas): Avenida Champagnat, 521, Praia da Costa, Vila Velha. Tels.: 3185-5614, 3185- 5602 e 3185- 5607
Teatro de Vila Velha: Praça Duque de Caxias, Centro
Sede do projeto Aprender Fazer e Vender: Praça de Coqueiral de Itaparica. Tel.: 3389-6183
Tenda especial: Praça Duque de Caxias, a partir de hoje
Círculo Trentino: Rua Zacarias Fernandes Moça, 83, Morada de Camburi, Vitória. Tel.: 3327-1273
Fonte: Jornal AGazeta / Rádio CBN