A chuva que alagou, entupiu as redes de drenagem e prejudicou centenas de moradores parece ter acabado. Mesmo assim, está difícil voltar para casa. Eram 431 pessoas abrigadas pela Prefeitura de Vila Velha em escolas públicas do município. Hoje são 170, que devem ser liberadas até o fim de semana. As demais voltaram para suas casas, estão em residências de amigos e parentes ou arrumaram um outro lar.
A água abaixou em boa parte de Guaranhuns, Cobilândia, Jardim Marilândia, Darly Santos, Cidade Nova e Pontal das Garças – as áreas mais atingidas. Mas regiões ainda em loteamento, caso dos últimos três bairros, a situação é mais complicada: boa parte das ruas secaram, mas os terrenos estão inundados.
Jucimara Santos de Oliveira, 35 anos, desempregada há três meses, mora em Pontal das Garças com dois filhos. Ontem ela resolveu voltar para o bairro, mesmo com o terreno alagado e um palmo de água dentro de casa.
Com uma lata, tentava esvaziar a sala. Segundo ela, pelo menos o quarto está seco. Mas a cama que terminou de pagar em outubro deste ano, um mês antes das chuvas, estragou.
"Não tenho mais nada. Mas é onde moro. Onde posso morar. Eu prefiro o meu cantinho a morar de favor", afirmou. Mas os filhos – um de 8 anos e outros de 14 – vão continuar morando com parentes. "Não trarei eles de volta enquanto não secar tudo. Estou com medo de adoecer, mas não posso permitir que isso aconteça com meus filhos", explicou.
O tio de Jucimara também mora na região. Começou a construir o segundo andar da casa. A mãe, vizinha dela, saiu de lá depois da chuva e hoje paga um aluguel para viver em Santa Paula. O irmão fez o mesmo. "Eles têm como fazer isso. Eu não", resume Jucimara de Oliveira.
Ajuda federal
Dinheiro depende de ministério
A ajuda do governo federal para os municípios atingidos pelas chuvas no Estado e a liberação de dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para moradores desabrigados depende agora da avaliação do Ministério da Integração Nacional.
Os recursos só vêm se o ministério reconhecer – e publicar também no Diário Oficial da União – o decreto de Situação de Emergência do governo estadual que saiu no Diário Oficial do Estado no último sábado.
Estão na lista oito municípios: Itapemirim, Domingos Martins, Baixo Guandu, Iconha, Água Doce do Norte, Vila Velha, Viana e Santa Leopoldina. Após a publicação, o município torna-se habilitado a pleitear recursos na administração federal. O morador pode retirar, no máximo, R$ 2,6 mil do FGTS na Caixa Econômica Federal.
Para sacar a quantia ele deve ter carteira assinada, comprovar residência em região que está na lista da União de áreas beneficiadas e apresentar documentos pessoais. Mas ainda não há prazo para que isso venha a acontecer.
Kombi da prefeitura fica abandonada
No meio do cenário pós-chuva no bairro Pontal das Garças está uma Kombi da Prefeitura de Vila Velha, cercada pela água. Dizem moradores da região que ela está abandonada há cinco meses, pelo menos, ao lado da casa de um funcionário da Secretaria de Ação Social do município.
A Kombi, hoje, é usada para guardar pertences desse morador, que preferiu guardar seus objetos dentro do veículo, por conta da chuva, em vez de deixá-los na casa. Moradores ainda disseram que o funcionário da prefeitura já começou a usar uma outra Kombi do município, enquanto essa permanece esquecida.
O secretário municipal de Ação Social, José Neto Barros, informou que não sabia da situação. "Vamos averiguar o que acontece no local, resgatar o veículo e avaliar se há como arrumá-lo. Também será aberta uma sindicância para verificar se há um culpado", adiantou Barros.
Novo cálculo de prejuízos em 10 dias
Um equipe técnica com engenheiros, arquitetos, médicos e assistentes sociais começará a produzir, hoje, um novo relatório sobre os estragos provocados pela chuva em Vila Velha. Os profissionais foram convocados pelo prefeito eleito Neucimar Fraga e farão um diagnóstico paralelo ao realizado pela Defesa Civil municipal.
Em entrevista à Rádio CBN Vitória, Neucimar Fraga disse que alguns bairros ainda estão alagados e é preciso deixar as águas baixarem para avaliar quanto o município vai precisar para se recuperar dos prejuízos. "Não dá para falar em um relatório de custos definitivo", diz Neucimar.
Segundo ele, o resultado do novo levantamento deve sair em 10 dias. Para Neucimar, o reparo pelos estragos deve ultrapassar o valor de R$ 10 milhões, inicialmente estimado pela atual administração municipal.
Cinco filhos e um cômodo para morar
Com cinco filhos, cinco cachorros e um gato, Rosa Ercília da Silva, 44 anos, teima em manter sua moradia em Pontal das Garças, Vila Velha. Três filhas estão com o pai. Outros dois estão com ela no único cômodo que não foi atingido pela chuva, no segundo andar. Na parte debaixo, alagada até a metade da parede, não tem como morar mais. Ela espera conseguir dinheiro para construir mais cômodos no segundo andar. "Mas não tenho como fazer isso. Só com muita fé para continuar vivendo".
Fonte: Jornal AGazeta
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 09/12/2008 às: 10:40
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