O peroá branco, que passou um período escasso no litoral capixaba, está voltando à cena. E o melhor: mais barato. O quilo do peixe, que chegou a custar R$ 10, agora sai por R$ 6 em Marataízes, litoral Sul do Estado. Nos quiosques, o prato de peróa era vendido por R$ 20 no último verão. A expectativa para a próxima temporada é de que custe R$ 12.
O motivo de tamanha queda no preço é a fartura da espécie na costa. Há dois meses, os cardumes descobertos no Estado surpreenderam os pescadores da região, que passaram a trazer do mar, em um barco, até duas toneladas de peroá. Em Marataízes, a pesca é fonte de renda para mais de 50 famílias.
São pescadores que vão ao mar todos os meses para garantir o sustento da casa. Antes dessa bonança, o barco ficava uma semana na costa para trazer até 300 quilos de peroá. Hoje, em três dias, é possível trazer uma tonelada.
Surpresas
O pescador Evandro Marvila, 42, conta que agora o quilo do peroá encontrado representa cerca de dois peixes. É sinal, segundo ele, de que há muito do peixe ainda no fundo do mar. "Esta é uma média considerada boa. Só temos que aproveitar e torcer para que tenhamos muitas surpresas agradáveis em nossas pescarias", comemora.
Os pescadores estão animados. A maioria garante que nunca viu tanto peroá no Espírito Santo. Atualmente, eles relatam que nem precisam viajar sete horas mar adentro, como faziam antes, para encontrar pequenos cardumes. Os peixes estão bem próximos à praia de Marataízes.
"Está tudo muito bom: barco cheio, vendas em crescimento e nossa renda garantida", complementa Evandro.
Os fãs da iguaria também torcem para que a maré continue para peixe. O peixeiro Almeri Gomes Carvalho acredita que o preço do quilo vai cair ainda mais. "Vai ser bom para quem compra e para nós que vendemos, pois temos garantia de mercado. No final, todos são beneficiados".
Almeri ressalta que a fartura de peroá está trazendo de volta antigos clientes, que havia sumido por conta da falta do peixe e, consequentemente, do preço elevado.
"O mar está nos dando este presente"
Almeri Gomes Carvalho, 30 anos, é peixeiro há 15 anos. Há mais de dez anos ele não vê uma situação como esta: o mar capixaba com tanto peroá, enchendo os barcos de peixes com tamanhos ideais à comercialização. Feliz com a pescaria, ele fala das expectativas. "Espero que o mar continue nos dando esse presente, com excelentes cardumes de peixes. Faz tanto tempo que eu não via tamanha fartura, que já tinha até esquecido. Agora minha memória foi refrescada. Espero que eu não esqueça tão cedo como é bom vender peroá", brinca.
"Dá prazer voltar com o barco cheio"
O pescador Orlando Fernandes da Silva, 29 anos, está na atitividade há seis anos. Durante esse tempo, nunca viu tanto peroá na costa capixaba. Ele mostra orgulhoso o resultado da última pescaria: foi uma tonelada, encontrada bem próxima à praia de Marataízes. "É surpreendente. Eu nunca havia pescado tanto. Dá prazer voltar com o barco cheio assim. Até nos motiva a ir para o mar rapidamente, porque com certeza vamos ter bons resultados. Para quem está começando como eu, é uma motivação para continuar e nunca desistir da pesca. Existem épocas mais complicadas. Depois, vem uma recompensa como essa", comenta ele.
Donos de peixarias e de quiosques já comemoram o aumento nas vendas de peroá
Rei do litoral capixaba, o peroá também está mais barato nas peixarias da Grande Vitória. O quilo, que custava R$ 11, pode ser encontrado, em média, a R$ 6,90. "Agora dá para comer um peroá bem-feitinho, com salada, arroz e banana frita no almoço de domingo", comemora a dona-de-casa Margareth Noronha, 44 anos.
Funcionário de uma peixaria em Vitória e fanático por peroá-branco (espécie que possui a carne mais macia e consistente), Mario Sergio Esteves, 34 anos, gosta de fazer Escabeche de Peroá (veja receita ao lado) para familiares e amigos.
"A maioria dos capixabas gostam do peixe frito. Eu prefiro a moqueca. Tenho um segredo que deixa a minha moqueca ‘profissa’: coloco pedaços de camarão no molho", revela o "peixeiro-gourmet".
Comércio
O preço acessível dessa iguaria da culinária capixaba agrada a gregos e a troianos. "Em um mês, a venda do peroá cresceu em torno de 20%", comemora Carlos Vinicius Lorenzoni, outro dono de peixaria em Vitória.
O empresário garante que, semanalmente, são vendidos em média 40 quilos a mais do produto, nos meses de junho a setembro, em relação ao resto do ano. "A resposta para o aumento da demanda é claro: há mais peixes disponíveis no mercado. Portanto, há redução nos preços e um maior número de vendas", acredita.
Os donos de quiosques das praias de Vitória também estão curtindo a "nova onda" do peixe. "Há um real aumento da procura, principalmente se formos considerar que as férias de julho estão chegando e, com elas, um maior número de turistas em nossas praias", afirma Sônia Laurent Cosme, dona de um quiosque na Praia da Curva da Jurema.
Segundo ela, os turistas, principalmente os mineiros que invadem o litoral capixaba nesta época do ano, apreciam o sabor de um bom peroá-branco. "Eles consomem o peixe porque é leve e possui um alto valor nutritivo. Além disso, o peroá tem poucas espinhas, ideal para a alimentação das crianças", comenta Sônia.
Sobre o peroá
Gênero. Há duas qualidades de peroá no litoral brasileiro: o peroá-preto, chamado cientificamente de balistes vetula; e o peroá-branco, o balistes capriscus. No Estado, o mais comum é o peroá-branco, considerado o de melhor qualidade devido à consistência e a maciez da carne
Localização. O peroá é muito freqüente no litoral capixaba em virtude dos campos de algas caucárias (de formação rochosa) localizados na região. A superfície favorece à propagação e procriação do peixe. Ele pode ser encontrado em abundância principalmente no centro-sul do Espírito Santo, mais precisamente na faixa litorânea que compreende Marataízes a Aracruz. O peixe se fixa em profundidade máxima de 50 metros
Abundância. O peroá é encontrado em grande quantidade nos mercados nesta época do ano por um único motivo: os cardumes se aproximam mais da costa entre junho e setembro, devido às mudanças das correntes marinhas, que são mais frias com a chegada do inverno
Números. De acordo com dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em 2006 e 2007, o Espírito Santo teve um crescimento na produção de pescado de 16% em relação a 2005. As espécies de peixes que mais contribuíram para o aumento foram o cação, com 63,8% a mais em relação à ultima pesquisa; o espadarte (52,5%); o dourado (21,2%), e o badejo (11,2%). Todavia, a produção do peroá apresentou um decréscimo de 5,2% em relação a 2006.
Escabeche de peroá
Ingredientes:
2 kg de peroá frescos e já limpos (temperados com limão, alho e sal)
500 g de tomates maduros
1 cebola grande cortada em cubos
1/2 copo de água
Tempero verde
Alho
Caldo para peixes
Farinha de trigo para empanar
Modo de preparo:
Com o peixe já temperado, passe-o na farinha e frite.
Coloque em uma panela à parte o alho, a cebola, o caldo e deixe fritar.
Joque o tomate, o tempero verde, sal a gosto e a água.
Deixe cozinhar por uns 5 minutos.
O prato rende, em média, com oito porções
Número
R$ 10
Foi quanto já custou o quilo do peroá
R$ 6
É quanto o quilo do peixe custa hoje nas peixarias
Fonte: Jornal AGazeta
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 16/06/2008 às: 17:46
|