Diante da necessidade de uma intervenção planejada da administração pública municipal, sobretudo em razão das precárias condições de mobilidade e da existência de mais de uma centena de quiosques que escondiam, certamente, o maior bem aos olhos dos turistas e freqüentadores, a vista da praia, elaboramos o projeto de requalificação urbana da orla de Itapoã e Itaparica, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil - seção Espírito Santo, numa iniciativa pioneira no Espírito Santo. O termo de referência foi coordenado pelo arquiteto Marco Romaneli, hoje presidente dessa respeitada entidade. O projeto vencedor do concurso, de autoria de um escritório capixaba selecionado dentre 28 concorrentes, contemplou a implantação de um moderno parque urbano ao longo de toda aquela orla, com foco prioritário no ser humano.
De posse dos projetos arquitetônico e executivo, iniciamos a luta para viabilizar sua implantação, inicialmente prevista para 2004. Por força das circunstâncias, aí incluída a necessidade de priorizarmos obras essenciais em face, inclusive, de calamidade decretada naquele período, somente pudemos licitar, contratar e iniciar a execução do projeto no final de 2007. Dependíamos de parcerias para levantar os recursos necessários para sua realização. Procuramos inicialmente o governo estadual, que custeou a reforma das orlas de Vitória e de Guarapari, mas deixou de fazê-lo em Vila Velha. Fomos ao governo federal, mas só obtivemos apoio do Ministério do Turismo para a reforma da praça da Prainha e construção da avenida Atlântica, em Nova Ponta da Fruta.
Tentamos, então, um financiamento internacional. Obtivemos a aprovação do governo federal, por meio da Comissão de Financiamento Exterior (Cofiex), mas o contrato nunca foi liberado para assinatura. Apelamos, então, à comunidade, propondo uma parceria em que o município custearia integralmente as obras e seria reembolsado posteriormente pelos proprietários de imóveis da região de Itapoã e Itaparica por meio da cobrança de uma contribuição de melhoria junto ao IPTU, o que não foi aceito.
Tudo isso fizemos para não represarmos os investimentos em carências mais urgentes da cidade nos bairros da periferia. Finalmente, em março de 2008, logramos êxito em nossa luta pela viabilização de recursos extras especificamente para as obras na orla, ao concretizarmos uma parceria com uma instituição financeira altamente qualificada, envolvendo a administração da carteira salarial (folha de pagamento) da prefeitura, numa operação similar à que já fora feita por diversos estados e municípios. Negociamos com o Banco do Brasil e em troca da nossa preferência, obtivemos R$ 9,65 milhões, um total suficiente para executarmos o projeto sem comprometer o orçamento municipal.
No que diz respeito às obras na região, realizadas ao longo e 2008, há um aspecto pouco visível, mas de extrema importância, implícito na execução do projeto pela prefeitura: a drenagem para o escoamento das águas, o que nos levou, inclusive, a perfurar a Rodovia do Sol em dois pontos para o lançamento das águas em direção ao Canal da Costa. Hoje, a avenida Estudante José Júlio de Souza e as ruas de acesso à orla dispõem de rede de esgoto e drenagem pluvial.
Na urbanização da orla, a prefeitura retirou 97 dos 153 quiosques, com indenização de benfeitorias a cada um no valor médio de R$ 22 mil. O processo de licenciamento, entretanto, só foi concluído junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) depois que este embargou as obras, por vinte dias, durante o mês ensolarado de agosto deste ano, prejudicando, mais uma vez, o cronograma físico do projeto. Além de cumprir todas as condicionantes estabelecidas pelo órgão ambiental, a prefeitura decidiu fazer algumas alterações no projeto original, visando à conclusão da nova orla ainda em 2008.
Superados todos esses desafios - e tendo sido a prefeitura impedida legalmente de retirar os 56 quiosques restantes e construir os novos e modernos quiosques previstos no projeto original, haja vista pendências burocráticas envolvendo essa questão — estamos entregando à população, agora, a primeira etapa da nova orla de Itapoã e Itaparica. Concluímos um projeto ecologicamente adequado, uma obra que valoriza o que temos de melhor na região, com novo calçadão em concreto armado e antiderrapante (piso tátil no lugar do piso acidentado), ciclovia e paisagismo.
Demos, enfim, a largada para a transformação da antiga orla num grande parque urbano à beira-mar, tão desejado por todos. Mesmo enfrentando a persistente chuva desde o final de outubro e o mês de novembro mais chuvoso da história do município nos últimos 84 anos, chegamos ao final dessa etapa, que coloca a segurança e o bem-estar das pessoas (moradores e turistas) em primeiro lugar. Dizem que o filho gerado na dor é mais amado. A nova orla de Itapoã e Itaparica, por todas as dificuldades impostas à sua construção, talvez se torne, por isso mesmo, a mais querida de Vila Velha. Bem-vindo à nossa nova orla!
Max Filho é ex-prefeito de Vila Velha
Fonte: Jornal AGazeta
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 09/01/2009 às: 05:32
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