Moradores e frequentadores da Praia de Itaparica, em Vila Velha, continuam protestando para que os quiosques da orla não sejam demolidos. Os estabelecimentos seriam notificados nesta segunda-feira (26), mas o prazo foi adiado pela Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU), por falta de fiscais. O gerente da GRPU, Luciano Fávero Bissi, afirmou, porém, que ainda nesta semana as notificações serão realizadas, mas ainda sem uma data exata.

Quando notificados, os proprietários dos quiosques têm 30 dias para se retirarem e providenciarem a demolição do estabelecimento. A Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU) faz cumprir o que determina uma ação civil pública interposta pelos ministérios públicos Estadual e Federal, argumentando que a praia foi ocupada irregularmente em 1991. Caso a GRPU não cumpra a determinação, o gerente, Luciano Bissi, terá que pagar uma multa de R$ 1 mil pelo atraso das notificações.

Empregos

Enquanto isso, os proprietários dos quiosques, temem perder o trabalho. Serão 500 empregos diretos extintos, segundo dados da Associação dos Quiosqueiros. A angústia pela espera das notificações deixou o clima apreensivo na praia. Muitos turistas e moradores não querem a destruição dos estabelecimentos comerciais.

O proprietário de um dos quiosques, Eroi Dias Vilete, de 48 anos, estava apreensivo. Ele trabalha há 18 anos na Praia de Itaparica. "Não temos outra forma de ganhar dinheiro. A gente vive disso aqui e valorizamos muito isso aqui e vamos lutar. Além do nosso trabalho, é uma prestação de serviço à comunidade e aos turistas. A gente deveria era ter mais incentivo".

Os proprietários reclamaram além da falta de incentivo, da falta de reconhecimento pelo trabalho já feito na orla, como ressaltou a dona de outro quiosque, Neuza Ribeiro, de 51 anos, que trabalha há 20 na região. "É muita covardia. São muitos anos aqui. Praticamente, foi a gente que fez essa orla, as castanheiras. Eu batia bomba para encher caixa d´água e agora é essa situação. Estou com medo de ficar parada, desempregada", relatou desolada.

Os garçons também temem perder o emprego. O garçom, Valcir Soares de Souza, de 36 anos, trabalha há oito na orla de Itaparica. "A gente vai ficar desempregado e eu não tenho outra opção por enquanto. Todo mundo está com medo".

Turistas

Os turistas também reclamaram e se uniram ao protesto. O analista de sistema, Sérgio Simão, de 38 anos, veio de Belo Horizonte com a família curtir o verão em praias capixabas. A preferência pela orla de Itaparica é justamente por conta dos quiosques. Ele não aprovou a retirada dos estabelecimentos que já estão funcionando.

"Para o turista vai ser péssimo. O quiosque traz um conforto muito grande. A questão das mesas, das barracas, o atendimento do garçom, a bebida, o tira-gosto. Tem o banheiro, os alimentos são preparados em locais adequados. A falta da barraca só traz prejuízo para quem é turista".

E os moradores sabem disso. O funcionário público, Luiz Carlos, de 59 anos, mora há 15 na região, disse que os quiosques são essenciais para a praia. "Vai fazer falta, porque um lugar sem quiosque não está com nada. Vai virar praia de farofeiro".

A comodidade, o lazer e a segurança são pontos destacados a favor dos quiosques. O diagramador, Sebastião Vargas, de 55 anos, é contra a demolição. "Vai fazer falta, porque o morador já é acostumado a vir à praia, tomar água de coco e trazer as crianças. É uma sombra, um refrigerante e até uma cervejinha no final de semana. Eu sou contra isso ai".

Abaixo-assinado 

No abaixo-assinado organizado pela Associação dos Quiosqueiros e pela Associação dos Amigos da Praia de Itaparica, são mais de 5 mil assinaturas coletadas contra a demolição dos quiosques. Moradores e quiosqueiros pretendem reunir 25 mil assinaturas com o objetivo de mostrar para os órgãos públicos a opinião da população sobre a demolição dos 56 quiosques, que ocupam as praias de Itapoã e Itaparica. As assinaturas podem vir a ser um elemento para alguma ação judicial, mas não serão por enquanto, como afirmou a advogada, Sônia Saad.

O secretário de Serviços Urbanos de Vila Velha, Reginaldo Loureiro, informou que após o dia 5 de fevereiro, deve acontecer uma reunião com o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual e o GRPU para debater mais sobre o assunto. "É preciso ter um estudo sobre a necessidade da população. Acredito que é preciso melhorar a qualidade dos quiosques, mas antes é necessário conhecer melhor todo o projeto para os futuros estabelecimentos. O lado social precisa ser revisto", declarou.

O movimento em frente o ´Quiosque do Jajá´ continua com faixas e, futuramente, serão distribuídas camisas e adesivos para os carros para conscientizar a população sobre a importância dos quiosques e de entrarem no movimento.

Fonte: GazetaOnline