Uma ação integrada entre secretarias de Vila Velha, Justiça e polícias começou ontem no município com um objetivo difícil de alcançar: recolher os moradores de rua, usuários de drogas, pedintes, adultos e menores de idade na mesma situação para que sejam atendidos, identificados e reencaminhados para a vida em sociedade.

Num galpão alugado, a prefeitura vai fazer uma espécie de mutirão para dar condições mínimas de higiene a essa população. "Ali vamos saber quem são, se é o caso de encaminhar para casa de recuperação, ver quais já são conhecidos das equipes de abordagem, enfim, quem quiser, vamos levar de volta para a sociedade", afirmou o secretário de Defesa Social do município Ledir Porto.

Ele afirmou que o problema é crítico em pontos já identificados nas praias de Itapoã e da Costa e na Prainha, que terão prioridade na ação. Para os casos de pessoas que se recusarem a ir para o abrigo, ele disse que contará com o apoio da Justiça e da polícia.

"Não estamos dizendo que é proibido morar na rua em Vila Velha, mas não vamos permitir falta de ordem pública. As pessoas estão abandonadas, sem identificação, fazem suas necessidades na rua, fazem sexo, usam drogas. Será que é isso que a sociedade quer? Não acredito que seja. Estamos recebendo reclamações", afirmou Porto.

Apesar de não saber estimar quantos moradores estão nessa situação em Vila Velha, a secretaria de Ação Social e Cidadania afirmam que o problema aumenta no verão, e que cerca de 20 moradores já foram e voltaram dos abrigos várias vezes, e que não aceitam sair das ruas.

Nessas situações, segundo o secretário, outras medidas serão tomadas para acompanhar cada caso e impedir o retorno à vida na rua. "Se precisar vamos construir mais abrigos, vamos discutir o problema com a Justiça. O que não pode é ficar colocando dificuldade. São seres humanos".

"Não volto a viver em casa"
"Pode escrever aí no seu papel: eu nunca mais volto a viver em casa ou apartamento. Desgostei". A frase é do morador de rua que se identifica como Luiz Alcides Cristo, 55 anos, há quatro "no mundo", como ele mesmo define sua condição em Itapoã, onde vive na rua.
Segundo moradores do bairro, Cide, como é conhecido, tem família e um filho, que volta e meia tentaria levá-lo para casa, sem sucesso, por conta do alcoolismo.

Para a reportagem, ele disse ter três filhos: Roberto, Sidney e Jocenir Cristo. "Dois são casados, e o caçula esteve aí, na semana passada me chamando para o casamento dele. E você acha que eu vou? Não vou. Sabe por quê? Pensamento da gente é terra que ninguém pisa", disse.

Alegando estar na rua após um acidente de caminhão, ele teria se afastado da família por causa da disputa de bens. "A senhora sabe o que é briga de terra? Dois querem vender e dois não. Eu sou o irmão do meio. Sabe quando vou vender? Enquanto tiver briga, nunca!"

A equipe de abordagem de rua de Vila Velha, porém, afirma que o caso é mais complicado. Agressivo quando está alcoolizado, Cide também teria sofrido maus tratos.

Garis têm que fugir de agressões
Eles lidam todos os dias com as pessoas que moram na areia da praia, em Vila Velha, e às vezes têm que se proteger delas, que se tornam agressivas sob o efeito das drogas. Os garis que fazem a limpeza do litoral sofrem com o aumento da população de rua nessa época. Para eles, o problema não será resolvido apenas com a retirada deles das ruas.

"Eles voltam. Tem um doido que arremessou uma pedra no ouvido do nosso colega. Semana passada, tinha até churrasco aqui. Eles sujam tudo, fazem as necessidades na rua", contou o gari Leonardo Beriz, de 21 anos.

Logo depois o grupo de trabalhadores teve que correr para evitar que um grupo de moradores de rua embriagado jogasse fora ou sujasse a água que eles trazem de casa para beber. "Aqui em Itapoã ninguém dá água para a gente, não".

O morador de rua em Vila Velha
Onde estão
Os pontos mais críticos segundo a prefeitura, onde há maior número de moradores de rua são: Praia de Itapoã, próximo à aldeia de pescadores; Curva da Sereia, na Praia da Costa; e o Parque da Prainha. Também há um ponto no bairro da Glória

Quem são
Além de pedintes, há migrantes que não têm como voltar para suas casas e usuários de drogas – principalmente álcool, mas também crack e tíner (entre crianças e adolescentes)

O que será feito
Todos serão levados para um galpão, ainda sem local definido pela prefeitura, para receber cuidados básicos de higiene, como corte de cabelo e banho. Lá, as pessoas também serão identificadas. A intenção é saber quantos são de Vila Velha e quantos vieram de outros municípios ou Estados; quantos têm residência e família na cidade; quantos são dependentes de drogas, além de outras motivações que os possam ter levado a viver na rua

Acompanhamento
A Secretaria de Defesa Social do município garante que abordagem e outras secretarias vão trabalhar para evitar que as pessoas retornem as ruas, mas não especificou como fará isso.

Fonte: Jornal AGazeta