O Brasil ganhou neste início de 2009 seu primeiro ginásio destinado à prática do boxe. A iniciativa tomada pelo capixaba Elival Gomes Cardoso, sem qualquer apoio de empresas particulares, governamentais ou da Confederação Brasileira (CBBoxe), deu origem ao Centro Esportivo e Cultural Barradão, em Vila Velha.
Treinador e dono de uma academia da modalidade na cidade capixaba, situada próxima à capital Vitória, Gomes sempre foi um aficionado pelos ringues. Agora, chegou ao ápice ao abrir o seu próprio espaço, destinado também para outras modalidades, mas sempre mantendo o sonho de formar medalhistas olímpicos e campeões mundiais no pugilismo.
"Eu construí o ginásio não apenas voltado para o boxe, logicamente, já que seria difícil de segurar (financeiramente). O boxe não me traz um rendimento para ficar só com ele, mas logicamente foi o ingrediente especial para eu levantar este projeto", explicou ele, já retratando as dificuldades que terá antes de tornar o espaço sustentável para a modalidade.
Assim, serão incluídos outros esportes no uso do local, como o futsal e o basquete, com eventos e treinos, gerando recursos por meio dos aluguéis. Ainda sem apoio, Gomes tentará parceria com a prefeitura de Vila Velha para sediar eventos e atividades no local que até aqui sediou apenas um evento.
Segundo Daniel Fucs, que foi vice-presidente da CBBoxe e hoje está na comissão de boxe profissional da entidade, haverá total apoio para promotores que queiram realizar eventos no local, tanto no âmbito profissional, quanto no amador, que inclui a seleção olímpica.
A única ressalva de Fucs é que a entidade não pode promover combates, apenas supervisionar. "É uma questão de haver pessoas para fazer o evento. O ginásio tem capacidade de fazer disputa de títulos, mas infelizmente o Brasil não tem grandes promotores. Esta dificuldade independe de ter ou não um local", disse ele, que esteve em evento em Vila Velha e visitou o Barradão.
Para Fucs, mesmo que o boxe não seja um esporte que precise de instalações específicas, necessitando apenas da montagem de um ringue, a iniciativa de Elival Gomes pode fazer a diferença quanto à imagem da modalidade. "Se não tivermos um local decente, o boxe sempre vai ser colocado como se fosse um esporte para o qual se faz favor", afirmou, citando como exemplo locais específicos construídos na Argentina. "Com o Barradão, hoje já se sabe que há um ginásio em que se pode fazer boxe com conforto. O segundo ponto é conseguir patrocínio para o local."
Além de poder sediar eventos com um público de cerca de duas mil pessoas no espaço, Gomes está construindo um local em anexo, exclusivo para treinar seus pugilistas. A obra deve ser finalizada ainda em 2009, substituindo a atual academia do capixaba.
Vale Tudo e Boxe em Família
Apesar de ser um apaixonado pelo boxe, não foi nesta modalidade que Elival Gomes Cardoso tentou a sorte em cima do ringue. Na década de 80, o capixaba foi lutador de vale tudo no Espírito Santo.
"Gosto de vale tudo e outras artes marciais, mas minha maior paixão era o boxe", explicou Gomes, que hoje tenta fazer do boxe um esporte atraentes para os seus conterrâneos.
Apesar da pouca tradição do Espírito Santo em uma modalidade dominada por baianos, paraenses e paulistas, ele acredita que desde os anos 90 houve um crescimento do boxe na região. A inauguração do ginásio pode fazer ainda mais para manter esta evolução no estado, que já teve Esquiva Falcão e seu irmão Yamaguchi na seleção.
Mas o grande sonho de Gomes não é formar qualquer lutador. O pupilo que traz mais esperanças para o técnico é o próprio filho, Júlio César, de apenas 13 anos. Para levar o garoto ao ringue, ele teve de convencer a mãe a aceitar.
"Hoje ela está orgulhosa dele, esse menino é um craque, é a minha maior esperança para voltarmos a trazer uma medalha olímpica", afirmou o "pai coruja", querendo encerrar o jejum de 40 anos desde que Servílio Oliveira trouxe o bronze dos Jogos do México.
Fonte: Uol