"Iaiá, você vai à Penha?", já dizia a música, emendando que havia uma promessa a ser paga para a santa padroeira. Mas os motivos que levam tantas pessoas a subir e descer as ladeiras do Convento nesta semana, durante a Festa de Nossa Senhora da Penha, não se limitam às promessas ou graças alcançadas. Devotos ou não, turistas, ambulantes, voluntários se juntam à massa de fiéis da terceira maior festa mariana do país.

Só de ambulantes cadastrados pela Prefeitura de Vila Velha para trabalhar no Parque da Prainha durante o evento são cerca de 150. Prova da diversidade da festa, entre eles está Zé Colatina, vendedor ambulante e evangélico, que vê na comemoração religiosa uma boa oportunidade de trabalho há 25 anos.

Não é só para ele que a festa tem esse significado. No serviço terceirizado, que oferece transporte para os fiéis na ladeira do Convento, as duas vans, que atendem à demanda durante todo o ano, vão ganhar nesta época um reforço de mais seis veículos.

Ainda entre os que vão à festa para trabalhar, estão os que oferecem sua energia sem cobrar nada por isso. Segundo o presidente da Associação de Amigos do Convento da Penha, Fernandes Avelino Pereira, nos últimos três dias da festa, quando se intensifica a programação religiosa, cerca de 300 voluntários vão estar divididos nas mais diversas atividades. "Só para segurar as bandeiras na distribuição da eucaristia da missa de encerramento são necessárias 150 pessoas", explica Pereira.

Isso sem falar nos que vão para fazer a homenagem à padroeira acontecer: devotos e religiosos. Entre eles também há quem vai à convento para coroar um compromisso que é levado à sério durante todo o ano, como é o caso da ministra da Eucaristia da Capela do Convento, Maria do Carmo Dazzi Dellaparte, de 54 anos.

Ela vai coordenar uma equipe de 14 pessoas, responsável por organizar um verdadeiro batalhão: são os cerca de 800 ministros, que vão passar pela festa desde o primeiro dia de oitavário até o dia da padroeira, alimentando os católicos com a hóstia consagrada. "Nessa época, a gente é tomado por uma alegria difícil de explicar. Não é só trabalho é a festa para nossa Mãe. Fazemos tudo para que as pessoas estejam felizes, é o auge de um trabalho feito o ano todo."


Tudo em nome da devoção à Penha

"Meu sonho mesmo é morar aos pés do Convento!" A frase do instrutor de Filosofia Luciano Machado Vicente, 37 anos, ajuda a revelar um pouco da devoção a Nossa Senhora da Penha e da paixão pelo Convento, mantidas por ele há muitos anos.

"Estive aqui pela primeira vez há 12 anos para fazer um estágio. Até então, só conhecia o Convento pelo desenho que tinha num bombom. Eu olhava para ele e pensava: um dia ainda vou conhecer esse lugar. Sempre fui católico e, quando fui ao Convento, já quis vir embora, morar no Estado," conta o educador, que nasceu em São João da Barra, Rio de Janeiro.

Desde a primeira visita à casa da padroeira, o sonho de vir morar no Estado só aconteceu depois de muitas preces. "Pedia muito e, depois que conheci uns amigos que moravam aqui, passei a vir sempre ao Estado. Sempre que passava na ponte, fechava os olhos e reforçava o pedido. Até que consegui um emprego", relembra.

Mas a permanência no Espírito Santo foi interrompida, quando o educador decidiu estudar para ser padre. Ele ficou por quatro anos num seminário, em São Paulo, e depois foi obrigado a voltar para sua cidade natal, por problemas de saúde.

Nesta semana, mais de 10 anos depois, ele tem um motivo especial para ir à Penha, vai agradecer à Nossa Senhora por ter voltado. "Estou há cerca de um ano de novo aqui no Estado. E tudo aconteceu como da primeira vez: enviava currículos e pedia à Nossa Senhora para voltar. Agora, já avisei para minha família que daqui não saio mais."

Festa da Penha atrai muitos turistas

Uma pesquisa realizada pela Prefeitura de Vila Velha no ano passado apontou que 46% dos participantes da Festa da Penha de 2008 vieram de outros Estados. A maioria dos turistas veio de Minas Gerais, na última Festa da Penha, e ficou no Estado por apenas um dia. O que mais agradou quem esteve na festa foi o Convento da Penha, apontado por 63% dos entrevistados como o ponto alto da viagem. A pesquisa também apontou a presença de turistas do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia, entre os visitantes. A maioria é mulher e jovem, com até 29 anos, e por ter gostado do que viu acaba voltando ao Estado. A maioria dos entrevistados - 67% das pessoas - disse que já havia visitado Vila Velha mais de quatro vezes.

Chances de trabalho em festa

Festa da Penha para o vendedor ambulante José do Carmo, o Zé Colatina, de 58 anos, é sinônimo de trabalho e de muitas histórias para contar e relembrar. Hoje ele já começa os preparativos para deixar os devotos bem alimentados durante a festa.

"Aproveito a devoção das pessoas para poder trabalhar. Nesta semana, já começo a preparar a carne de sol, o resto compro no dia e faço em casa, já que lá não tem ponto de água e meu trabalho requer muita higiene", explica o vendedor, que tem no currículo nada menos que 25 festas da padroeira do Estado.

Mesmo com toda essa experiência, ele diz que cada festa é um aprendizado. "Um dia ensina o outro. Quem se considera profissional sempre enxerga uma oportunidade de melhorar, a gente conhece pessoas, é sempre bom," afirma.

Evangélico, Zé Colatina afirma que as festas mais antigas eram mais fervorosas. "Acho que havia mais fé. Hoje tem gente que vai para ver os shows. Antes a festa era mais simples, mas era dos devotos. Também tem mais turistas", avalia.

Sobre o faturamento, ele diz que quem trabalha em eventos sabe da dificuldade de prever se o movimento trará lucro ou não. "É igual a jogo de azar. Teve um ano que me deixaram de fora da área das barracas, me separaram do bolo. Mas se deram mal, porque choveu, e eu acabei ficando no lugar onde as pessoas mais passavam. Não ficava mesa vazia e foi um dos anos em que mais ganhei dinheiro", lembra.

Jovens unidos em prol da evangelização

Resumir os temas tratados nos oito dias da Festa da Penha numa peça de teatro, que vai durar menos de 10 minutos. Essa é a missão que foi confiada ao grupo teatral Cristo em Cena, da Paróquia da Ressurreição, de Goiabeiras, em Vitória.

Além da responsabilidade de encenar a festa de 2009 em poucos atos, eles ainda vão fazer isso no ponto alto do evento: a missa de encerramento, no Parque da Prainha, no próximo domingo, pouco antes da homilia que será feita pelo arcebispo dom Luiz Mancilha Vilela.

Surpresa

A encenação ainda é uma surpresa, mas, segundo o coordenador do grupo, Luiz Henrique Silva Melo, de 24 anos, deve ter como eixo o tema principal da festa - "O Senhor fez em mim maravilhas" - frase dita pela virgem Maria, grávida, durante visita a sua prima Isabel.

"A nossa expectativa é sempre poder evangelizar o maior número de pessoas possível. Somos jovens consagrados, devotos de Nossa Senhora, e honrando a Mãe também vamos honrar Jesus Cristo", afirma uma das integrantes do grupo, Thais Caus Wanderley, de 27 anos.

Fonte: VilaCapixaba / Jornal AGazeta