Na última sexta-feira, li em A GAZETA a sugestão nada oportuna do arquiteto Antonio Challub para mudança do nome do município de Vila Velha para Glória do Espírito Santo. Com todo respeito que o tema merece, neste momento de crise social e de necessidade de união de esforços pelo bem comum, temos questões mais urgentes a tratar no município.
Fui eleito vereador de Vila Velha nas últimas eleições municipais. E desde que comecei meu mandato tenho constatado como é importante, a despeito de muita pieguice, compreender o amor de um povo por sua cidade, pelo lugar onde vive. Eu não nasci em Vila Velha, fui acolhido aqui quando, adolescente aos 14 anos, acabara de chegar do interior, mais precisamente de Mimoso do Sul, migrante em busca de melhores oportunidades de educação e profissionalização, após tragicamente ter perdido meu pai, num dos tantos acidentes na BR 101 no letal trecho compreendido entre Iconha e Capim Angola.
Cheguei a Vila Velha e me encantei com a bravia e deserta praia de Itaparica. Vila Velha não tinha se tornado tão atrativa aos olhos da construção civil, parecendo que havia todo espaço disponível para abrigar todos que chegassem. Coisa de avó que sempre tem surpresas e agrados aos netos, independente da quantidade. O bairro onde fomos morar, em contra-ponto chama-se Vila Nova. Conjunto habitacional construído pela COHAB, seguindo uma tendência de ocupação do seu solo pela construção de conjuntos habitacionais inaugurado pelo Ibes. O bom dos conjuntos, isso eu pensava, era que as casas eram todas iguais. O que nos remetia ao mesmo patamar sócio-econômico.
Se hoje Vila Nova tem asfalto e está pavimentada, nem sempre foi assim. Morávamos num areal, onde nos divertíamos desatolando carros que ficavam agarrados em suas ruas descalças e arenosas, verdadeiras trilhas de rallie. Mas a Velha Vila me conquistou, me acolheu e me educou. Nas lutas populares, que brotaram em suas ruas como brotavam seus novos bairros, alguns sem nenhuma infra-estrutura.
Nas Comunidades Eclesiais de Base gerando em seus jovens a responsabilidade da luta pela melhoria dos bairros de periferia. Antes que Regina Casé espalhasse esse conceito, as Ceb’s já o conheciam. Na partilha da luta, na construção da fraternidade e da solidariedade entre os pobres. O conceito vive em meu imaginário profetizado na célebre frase de Dom João Batista da Mota e Albuquerque, como lição revolucionária: "Só o povo salva o povo".
Simbolicamente Vila Velha está para mim como a casa do Espírito Santo. Seu real começo, seu alvorecer, sua manjedoura! Vila Velha é a cidade natal de nosso estado. Abriga, sem sombra de dúvida, nosso monumental orgulho, erguido nos píncaros da Penha, nos altos da Glória do seu valioso patrimônio religioso e histórico. No largo da Prainha sustenta nossa memória de povo que não foge à luta e aos desafios.
Ali também ensina com Massena uma arte que é tão nossa, original, personalidade própria. Traços que impressionam seus cidadãos, que avivam o imaginário influenciando-nos à observação de nossa própria beleza. Fazendo-nos volver atenção aos nossos semelhantes, aos excluídos dos bens sociais. Temos que buscar soluções para problemas que se acumularam por falta de planejamento urbano, por falta de comprometimento com a melhoria da qualidade de vida nas cidades. Se permitiram que a Praia da Costa não tenha hoje uma praça sequer para seus moradores, o que não fizeram com os bairros da periferia, que deixaram brotar sem qualquer infraestrutura urbana? É essa realidade que temos de enfrentar, e não trocar de nome por um mero capricho elitista.
João Batista Gagno Intra (Babá) é vereador do PT em Vila Velha.
Enviado Por:
Eliaro
Publicado em 10/06/2009 às: 06:00